Para o MovPaz, não
passa de mito a ideia de que ter uma arma em casa é uma proteção contra a
violência
A
campanha pelo desarmamento voluntário foi tema de audiência pública realizada,
ontem, na Assembleia Legislativa do Ceará. De iniciativa da deputada Mirian
Sobreira (Pros), atendendo à solicitação do MovPaz, foi promovido um forte debate
na Casa. Além da apresentação de índices mostrando o crescimento da violência e
os riscos de se ter em casa uma arma de fogo, as divergências de opinião
trouxeram à tona uma outra questão: a fragilidade dos aparelhos de segurança do
Estado.
O
coordenador nacional do Movimento Internacional Pela Paz e Não Violência
(MovPaz) e membro do Conselho Nacional de Segurança Pública (Conasp), Clóvis
Nunes, explicou que, atualmente, no Brasil, circulam 16 milhões de armas (14
milhões da sociedade e apenas 2 milhões da Polícia). Já o Ceará registra mais
de 253 mil armas em circulação.
Em
âmbito nacional, 65,7% dos homicídios do País são cometidos por pessoas sem
antecedentes criminais. "As mortes acontecem, muitas vezes, por motivos
banais, como brigas de rua, discussões ou alcoolismo. Discussões essas que
poderiam terminar com uso de curativos ou num posto de saúde, e não num
velório, se não houvesse uma arma próxima na mão de alguém", observou
Clóvis, enfatizando que o acesso fácil à arma potencializa o crime. Para ele,
não passa de mito a ideia de que ter uma arma em casa é uma proteção contra a
violência. "Cientificamente está provado que a arma é um excelente
instrumento de ataque, mas um péssimo mecanismo de defesa", afirmou.
"A
pauta do desarmamento é da sociedade civil, não pertence a nenhum
partido", citou, lembrando que a Organização das Nações Unidas (ONU)
considera tolerável o índice de seis homicídios por 100 mil habitantes, mas no
Brasil essa relação é de 25 por 100 mil. "Somos os campeões mundiais em
armas de fogo. Nenhum país em guerra civil mata mais no mundo do que o nosso,
sem guerra", observou o coordenador do MovPaz, uma Organização
Não-Governamental. Por arma de fogo, morre um brasileiro a cada 15 minutos, 96
por dia e 38 mil ano, adiantou.
Já
o diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC) e
ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil seção Ceará (OAB-CE), Cândido
Albuquerque, demonstrou sua descrença de que o desarmamento possa resultar em
mudança no quadro de violência do País. "Não sou contra o movimento, porém
é preciso colocar os pés no chão", destacou, acrescentando que a Polícia
Civil, a quem compete fazer investigações, está desaparelhada.
Segundo
ele, é preciso, antes de tudo, repensar o modelo de segurança pública, com a
destinação de mais investimentos, treinamentos de pessoal e melhores condições
de trabalho.
Requerida
pela deputada Mirian Sobreira, atendendo à solicitação do MovPaz, a audiência
pública deixou nítida a preocupação de todos com o crescimento criminalidade.
Contudo, não houve consenso quanto às soluções. Cândido Albuquerque chegou a
questionar a veracidade das pesquisas apresentadas.
Tráfico
Para
a deputada Mirian Sobreira, o tráfico ilegal de armas de fogo contribui para o
aumento da violência. Considera que a efetiva a aplicação do Estatuto do
Desarmamento ajudaria a coibir a prática ilegal e a comercialização do uso
desses equipamentos, além de possibilitar aos cidadãos uma maior segurança.
Defendeu o desarmamento voluntário e o fortalecimento da campanha em Fortaleza
e no Ceará.
As
discussões contaram com a presença de um grupo de 27 alunos do Colégio Darwin.
A estudante Amanda Botelho, 17, considerou "válida" a proposta de
desarmamento, mas também saiu com a reflexão de que outras medidas precisam ser
adotadas. Já psicóloga da unidade escolar, Fabíola Carneiro, adiantou que o
colégio crê na cultura de paz.
A
campanha de desarmamento é uma iniciativa do governo federal, Ministério da
Justiça e da sociedade civil, representada por diversas ONGs. A sede do MovPaz
em Fortaleza é a Casa da Paz, inaugurada em 29 de agosto deste ano. A Casa já
recebeu 75 armas e 535 munições. O objetivo, diz Clóvis Nunes, é diminuir os
índices de homicídio no Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste
(14/11) / Foto: Divulgação da AL